As mais comuns manifestações cutâneas podem ter uma origem psicossomática. Os pacientes, no entanto, frequentemente fazem muita resistência a um tratamento psicoterápico. Um forte elogio, um acesso de raiva, uma súbita alegria e num instante o rosto fica vermelho. Isso acontece porque a pele mostra as emoções que não conseguem se revelar em palavras. suor-sob-controle (1)

O fato é que a pele e o sistema nervoso tem a mesma origem fisiológica. “Ambos provém da mesma camada germinativa embrionária que depois, separando-se, formam a pele e o sistema nervoso. E, embora mais tarde os dois tecidos venham a desempenhar diferentes tarefas na vida, a relação entre eles, com muitas probabilidades, permanece. É por isso que, muitas vezes, os problemas psicológicos aparecem na pele.”, explica a médica dermatologista Luciana Maluf.

Esse diálogo constante entre pele e sistema nervoso perdura vida afora: a mente se agita nervosamente, a pele recolhe a explosão emocional. Esta estreita conexão muitas vezes atrapalha o diagnóstico dermatológico para encontrar o tratamento adequado. Os problemas dermatológicos derivados do estresse emocional são vários e o diagnóstico requer uma anamnese dedicada e uma conversa franca com o médico.

Alopecia areata

De repente, os cabelos caem em tufos, criando áreas arredondadas e bem delimitadas sem cabelos na cabeça. Às vezes, caem pelos do corpo também. O fenômeno não tem nada a ver com a saúde do cabelo, que pode ser bastante saudável. Mas pode estar relacionado com a psique da pessoa. “A alopecia areata pode ser causada por problemas autoimunes ou pode ser uma questão de hereditariedade, mas é muito frequente encontrarmos pacientes que sofrem a perda súbita de cabelos depois de um profundo estado de estresse emocional – no trabalho, no ambiente familiar, na vida.”, explica a doutora Luciana.

Nesses casos é preciso que o dermatologista seja capaz de analisar e compreender a história de vida do paciente para ajudá-lo a superar o problema. “Não basta indicar loções e medicamentos, e aplicar técnicas que estimulam o crescimento dos cabelos, até porque o cabelo volta a crescer espontaneamente em 90% dos casos. O importante é que a alopecia não ocorra mais vezes, e para isso é preciso compreender e tratar as suas raízes emocionais, se houver”, explica a doutora Luciana.

Acne tardia

Outra manifestação cutânea ‘psicossomática’ pode ser a acne tardia, que ocorre principalmente nas mulheres entre 25 e 40 anos. Uma idade que, pelo menos do ponto de vista estético, deveria ser de esplendor máximo, acaba sendo, ao contrário, vivida com angústia. Além de espinhas, comedões e pontos negros, a paciente, envergonhada, esconde-se atrás de maquiagem pesada e outros truques que acabam piorando a situação. Um ciclo vicioso que acrescenta ainda mais ansiedade e que pode levar à depressão. “As causas da acne tardia sem dúvida envolve uma alimentação desequilibrada, cosméticos inadequados para o tipo de pele, não limpar a pele e desequilíbrio hormonal, entre outros. Mas o fator emocional é de grande importância. Posso dizer que muitas pacientes afetadas pela acne tardia apresentam um quadro de moderado a severo de estresse, sendo a ansiedade a principal vilã”, diz a doutora Luciana Maluf.

Dermatite atópica 

Outra prova de fogo da relação entre mente e pele. E isto é verdade tanto para adultos quanto para crianças. “Os pais brigam, a mãe está grávida, e a criança aos três ou quatro anos tem um discurso limitado, fica difícil para ela expressar verbalmente seus medos. Então a pele reage para mostrar o desconforto emocional por meio de prurido, eritema, descamação e crostas”, explica a doutora Luciana Maluf.

O quadro é recorrente: a mãe, preocupada, vai ao dermatologista e, muitas vezes, omite o relato de situações que poderiam afetar as emoções da criança. “Busca-se o tratamento sob a forma de cremes, loções, medicamentos – que evidentemente ajudam a amenizar o quadro. Mas se a raiz emocional do problema não for tratada, a pele continuará reagindo, até que a criança encontre o seu próprio equilíbrio”, diz a doutora Luciana.


Urticária de fundo nervoso

A urticária de fundo nervoso se caracteriza por coceira intensa e irritação, às vezes com inchaço – a crise aparece repentinamente e pode regredir em minutos ou horas. Descartado o diagnóstico de doenças sistêmicas, alérgenos ou outras causas como uso de produtos de limpeza, chuveiro muito quente, intolerância a determinadas drogas, é preciso considerar os fatores emocionais.

“Sem dúvida os sintomas de urticária são mais intensos e podem ser desencadeados por fatores emocionais – conflitos pessoais, alteração da rotina de vida, perdas e frustrações, ou mesmo um grande susto. O difícil é convencer o paciente de que ele ou ela precisa de auxílio terapêutico, quando o que ele/ela deseja apenas cuidar da pele e do desconforto”, explica a doutora Luciana Maluf.

Hiperidrose emocional

A produção de suor excessivo também pode ter causas emocionais. Na pessoa que sofre uma emoção forte, devido a um compromisso, por exemplo (noivos no altar), ou em uma reunião de negócios ou uma consulta, as glândulas sudoríparas trabalham de forma muito ativa, fazendo o suor literalmente pingar.

Nesses casos o desconforto é muito grande e acaba debilitando ainda mais as energias emocionais, especialmente nos mais jovens. Algumas pessoas sentem dificuldades de ter uma vida social normal. “Os tratamentos tópicos, nesses casos, podem ser aplicados mas o mais importante é o acompanhamento psicológico para controlar os transtornos emocionais”, diz a doutora Luciana Maluf.