Injetada em tumores gástricos, a toxina impediu o crescimento da doença em ratos

 (Valdo Virgo/CB/D.A Press)

Normalmente conhecida pelas agulhadas capazes de preservar expressões faciais na luta contra o tempo, a toxina botulínica — ou simplesmente botox — não precisa apenas de justificativas estéticas para ser aplicada no corpo humano. Antes mesmo de sumir com as rugas indesejadas, durante a década de 1980, a substância chamava a atenção por provocar relaxamento de músculos oculares em pacientes com estrabismo. A partir de 1990, passou a ser usada em pessoas com distúrbios do movimento, principalmente nos casos de espasticidade. A exploração clínica do composto tem se ampliado exponencialmente. A mais recente novidade é a utilização dele para interromper o crescimento de tumores gástricos.

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O efeito acontece porque o sistema nervoso é crucial para a regulação de diversos órgãos do corpo, inclusive dos que sofrem com cânceres. O grupo de pesquisadores que desenvolveu o procedimento, ainda experimental, acredita que o crescimento do cancro pode ser suprimido com a eliminação de sinais enviados pelos nervos que estão ligados a células-tronco do tumor. Esse bloqueio, chamado denervação, é alcançado por procedimento cirúrgico ou apenas pela aplicação local de botox. Os resultados foram publicados na última edição da revista científica Science Translational Medicine por cientistas de grandes instituições de pesquisa, como a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, a Universidade de Columbia e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Uma das principais vantagens da terapia proposta é que a toxina proporciona um procedimento barato, seguro e eficiente. Os testes foram realizados somente em camundongos (veja infografia), mas há a intenção de começar em breve com humanos. Inicialmente, os cientistas tentaram três métodos para interromper a ligação entre os nervos e o tumor: por corte do nervo vago gástrico (vagotomia) e com medicamento e intervenção genética para bloquear o receptor do neurotransmissor que estimula o crescimento de células cancerígenas. Todos foram bem-sucedidos em suprimir o avanço tumoral, mas sem as vantagens do botox, especialmente a ausência de intervenção cirúrgica.