A pele da criança é mais delicada que a de um adulto, e isso exige cuidados especiais e observação constante para prevenir e melhor tratar problemas – muitos deles ligados às próprias características da pele na infância, como a dermatite de contato (saiba mais sobre esse tema aqui).

Embora tenhamos o mesmo número de camadas na derme desde que nascemos; nos pequenos, essa composição é um quinto menos espessa. Ou seja, estamos falando de uma pele consideravelmente mais fina.

Outra característica é que as glândulas que produzem suor e sebo são também menos ativas na infância. Dessa forma, o chamado filme hidrolipídico (composto de uma mistura de transpiração e oleosidade) – e que forma uma camada protetora – tem uma atuação mais fraca.

A atividade dessas glândulas segue menor até a puberdade, quando ocorrem as mudanças hormonais – por volta dos 12 anos. É nesse momento, por exemplo, que passam a surgir as diferenças entre a estrutura e o comportamento da pele dos meninos e das meninas – até então iguais.

Sendo assim, a pele das crianças é especialmente sensível a influências físicas, microbianas e também químicas – uma vez que elementos externos são absorvidos mais facilmente e conseguem penetrar camadas mais profundas.

Olho nas embalagens

Por conta de todas essas diferenças, a pele das crianças não pode ser tratada – nem em casa nem no consultório – da mesma forma que a dos adultos. E isso inclui produtos, procedimentos e hábitos que devem ser monitorados pelos adultos responsáveis.

Segundo informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é um dos maiores mercados mundiais de cosméticos infantis. Para além de xampus, sabonetes e demais produtos de higiene pessoal, estamos falando também de maquiagens, esmaltes, tinturas para cabelo e até aquelas “tatuagens” temporárias – uma brincadeira comum em festinhas.

Para ter certeza da qualidade do produto, a primeira providên­cia é procurar o número de registro da Anisa na embalagem. A indicação desse código pode ser precedida pelas iniciais MS, ANVS ou pelo nome Anvisa, seguido de um número com 9 ou 13 dígitos, que sempre se inicia com o número 2.

É imprescindível que esse controle esteja expresso nas embalagens. Isso garante que os produtos passaram por uma detalhada análise técnica a fim de se verificar a conformidade com a legislação sanitária vigente, incluindo análise da segurança do produto.

Melhores escolhas

As crianças devem utilizar apenas produtos infantis, elaborados de forma a respeitar as características da sua pele. O caráter lúdico do “se pintar”, desde que os produtos sejam inofensivos à pele dos pequenos (e que haja limites para o uso), pode render uma saudável brincadeira. O importante é equilibrar a balança que pesa os valores que se quer ensinar às crianças e o que elas desejam em cada momento da infância.

Por isso, atenção na hora de escolher o que deixar ao alcance da criançada. As maquiagens para adultos – ou mesmo as feitas para bonecas – não podem ser utilizadas, que já contém corantes, fixadores e outras substâncias químicas que podem causar reações alérgicas.

O mesmo vale para batons, blushes, brilhinhos ou mesmo esmaltes. Na hora de brincar de colorir as unhas, as únicas opções que devem ser consideradas pelos pais ou responsáveis são aquelas elaboradas à base de água – e que, portanto, saem sem a necessidade do uso de acetona ou qualquer outro tipo de removedor. E uma dica para ajudar a escolher: por não possuírem solventes, os esmaltes infantis têm um cheiro bem diferente daquele que caracteriza as versões para adultos.

Outra informação importante: recomenda-se – tanto para esmaltes quanto para quaisquer outros produtos de uso infantil – que esses cosméticos contenham subs­tâncias de gosto amargo, o que ajuda a evitar a in­gestão acidental.

Mas mesmo com todas essas precauções, cada tonalidade (de esmaltes, blushes, batons) deve ser testada antes ir parar na caixa de brinquedos. É assim que podemos avaliar o potencial de irritação de cada produto, a sen­sibilização e a toxicidade oral. Os rótulos devem possuir orientações e advertências quanto a isso.

E não tire a cutícula das crianças, essa “pelezinha” é que protege a unha de bactérias e fungos, e fixa melhor a unha na pele.

Pode pintar o cabelo?

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é bastante reticente nesse quesito. Boa parte dos especialistas recomenda evitar essa “brincadeira”, uma vez que as tinturas podem ser nocivas, principalmente no caso das que não são feitas pensando nas características dos cabelos das crianças (e, convenhamos, quais seriam?). Além de danificar os fios, mudar a cor dos cabelos na infância pode causar desde irritação no couro cabeludo até quadros alérgicos e broncoespasmos.

Uma alternativa aceitável seriam os sprays coloridos temporários, que saem no banho e não alteram a coloração definitivamente. Ainda assim, é preciso observar a embalagem do produto. Ela deve apresentar siste­mas e válvulas de dosagem que permitam a liberação de peque­nas quantidades – ou seja, nada de aerossol. Assim como não devem ter pontas cortantes ou pe­rigosas.

Para saber mais, consulte a Cartilha de Cosméticos Infantis da Anvisa.