Cuidados inapropriados da pele das crianças pode aumentar o risco de eczema. Este tema de dermatologia clínica foi matéria do Wall Stret Journal que traduzimos para o Mundo Dermato
Um novo entendimento da causa do eczema está levando alguns cientistas a investigar se o cuidado que os pais dão à pele de seus bebês pode contribuir para o crescimento da doença.
Quantas vezes o bebê é banhado, quais os sabonetes e shampoos utilizados e se a pele do bebê está apropriadamente hidratada depois do banho são coisas que podem ajudar a desenvolver o eczema, é o que sugerem estudos recentes. Pesquisadores dizem que muitos bebês podem ter banhos demais, e que dois ou três banhos por semana são suficientes. Eczema causa secura, coceira e inflamação em áreas da pele – o que normalmente se inicia na tenra infância.
Cientistas acreditam cada vez mais que fatores ambientais, tais como banho, poluentes e aquecimento interno, podem perturbar a capacidade da pele de manter a umidade e defender-se de alérgenos e micróbios. Uma barreira de proteção da pele enfraquecida – a camada mais externa – permite que irritantes externos penetrem a pele e provoquem uma resposta do sistema imunológico. Uma outra pesquisa descobriu que variações genéticas em alguns pacientes com eczema também podem comprometer a barreira de proteção da pele.
Por muito tempo acreditou-se que o eczema começava como uma reação alérgica, talvez a alguma coisa que a criança tivesse comido ou tido contato que pudesse levar à inflamação da pele. Mas os especialistas dizem que durante décadas observando alergias como as principais culpadas por trás do eczema rendeu algumas estratégias preventivas.
“Quanto mais compreendemos as causas do eczema, mais evidências temos que os cuidados com a pele do bebê são relevantes”, diz Eric Simpson, professor associado de dermatologia na Universidade Oregon de Saúde e Ciência, em Portland, EUA. “São as coisas que fazemos, pensando que é o melhor para o bebê, que causam eczema?”, pergunta Simpson.
Eczema, formalmente conhecido com dermatite atópica, costuma aparecer na face e no couro cabeludo dos bebês, e nas pontas dos cotovelos e por detrás dos joelhos em crianças mais velhas. A prescrição de algumas pomadas pode reduzir a coceira e a vermelhidão, mas não é uma cura do problema.
A condição usualmente desenvolve-se antes dos 18 meses, quando a pele do bebê está ainda em desenvolvimento. Pode ir e vir por meses ou anos e às vezes desaparece até a adolescência. Ocasionalmente persiste durante a vida adulta. A Academia Americana de Dermatologia estima que de 10 a 20% das crianças desenvolvem eczema atualmente, contra apenas 3% em 1960. Não está claro se essa taxa de incidência ainda está crescendo.
Em um estudo recente, o Dr. Simpson e uma equipe de investigadores do Reino Unido analisaram se proteger a pele dos bebês com um hidratante poderia ajudar a prevenir o eczema. Eles dividiram 124 recém-nascidos de alto risco para eczema, por conta da história familiar, em dois grupos. Os pais do primeiro grupo foram instruídos a aplicar um creme hidratante sem perfume em todo o corpo de seus bebês, uma vez por dia. No outro grupo, os pais foram orientados a não usar hidratante. Quando os bebês completaram 6 meses de idade, a incidência de eczema no grupo hidratado foi cerca da metade do que os bebês do grupo controle, ou 22% versus 43%.
O estudo está publicado na edição atual do Journal of Allergy and Clinical Immunology. Outro pequeno estudo na mesma edição, realizado por um grupo de pesquisadores japoneses, também encontrou uma taxa muito reduzida de eczema em bebês cujos pais aplicaram um hidratante diariamente. Esse estudo envolveu 119 bebês.
“Não tínhamos muitas evidências de que poderíamos alterar as chances de uma criança desenvolver eczema”, diz Seth Orlow, presidente do Departamento de Dermatologia da NYU Langone Medical Center, em Nova York. “Este estudo sugere que podemos fazer algo que não exige muita tecnologia para mudar a propensão de uma criança desenvolver a doença, o que é realmente entusiasmante”, diz o Dr. Orlow, que não estava envolvido na pesquisa sobre eczema e hidratantes.
Dr. Simpson disse que está planejando, com financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, um grande estudo multicêntrico para testar se os primeiros resultados se sustentam. Ele irá incluir algumas outras práticas de cuidados da pele que poderiam ajudar a prevenir o eczema, incluindo banhar o bebê não mais do que duas ou três vezes por semana, usando apenas pequenas quantidades de produtos higiênicos, suaves e livres de fragrâncias.
A Academia Americana de Pediatria recomenda em seu site banhar o bebê três vezes por semana ou menos, e aplicar uma loção hidratante hipoalergênica sem perfume imediatamente após o banho para ajudar a manter a pele umedecida.
Fragrâncias e alguns ingredientes de sabonetes e shampoos, como sodium lauryl sulfate, podem irritar a pele, dizem os especialistas. Eles recomendam utilizar hidratantes que sejam mais espessos e oleosos, por que estes podem fazer um trabalho melhor na vedação da umidade.
“Nós nos tornamos mais conscientes sobre o quanto importante é a barreira protetora da pele”, diz Megha Tollefson, um dos autores de um relatório clínico sobre eczema para a Academia Americana de Pediatria. “É definitivamente uma das áreas mais importantes que devemos observar quando se trata de prevenir o eczema,” diz o Dr. Tollefson, professor assistente de dermatologia e pediatria na Mayo Clinic.
Muitos pais parecem não estar seguindo as recomendações da academia. Em um relatório publicado online na revista Pediatric Dermatology, em setembro, o Dr. Simpson analisou o uso de produtos de cuidados da pele do bebê nos EUA, com base em dados recolhidos pela empresa de pesquisa de mercado Mintel Group. As famílias relataram o uso de sabonete líquido e de xampus em torno de cinco vezes por semana, em média.
“As pessoas estão banhando demais os seus bebês”, diz o Dr. Simpson. “Se você expõe sua pele à água e a deixa secar no ar, isso leva à secura da pele – assim como a parte baixa da margem do rio, que fica craquelada quando seca”.
Nos últimos anos, pesquisadores também encontraram causas genéticas associadas ao eczema. Uma variação genética parece reduzir a quantidade de uma proteína chamada filagrina que ajuda a manter a pele hidratada. Estudos demonstraram que cerca da metade das pessoas que tem eczema moderado a severo tem deficiência de filagrina, enquanto que os casos leves a moderados de eczema estão muito menos associados ao problema genético.
Especialistas acreditam que um colapso da barreira protetora da pele, por conta de fatores genéticos ou ambientais, pode explicar, em parte, o crescimento da taxa de eczema. Também importante é a resposta imune do corpo a alérgenos e outros irritantes. Alguns estudos têm mostrado que, provavelmente, a administração de probióticos a mulheres durante a gravidez possa reduzir o risco de eczema, alterando a resposta imune dos bebês.
PROTEÇÃO DA PELE
Pesquisas recentes sugerem que o cuidado apropriado da pele de crianças pode reduzir o risco de eczema. Aqui vão algumas dicas:
- No primeiro ano de vida, dê banho no seu bebê no máximo duas ou três vezes por semana para prevenir que a pele do bebê fique ressecada.
- Aplique um hidratante generosamente logo depois do banho. Aplique-o quando a pele ainda está úmida para selar a água.
- Use produtos suaves de higiene, desenvolvidos para a pele de bebês.
- Produtos sem perfume são os melhores. Mesmo ingredientes a base de ervas podem irritar a pele do bebê.
- Produtos hidratantes mais espessos ou oleosos são melhores para hidratação da pele.
Fonte: Wall Street Journal