Alguns pigmentos são fotossensibilizantes: há o risco de queimadura, bolhas, eczema cutâneo, mas o perigo real são melanomas. É essencial proteger a área tatuada.
Mais do que uma moda passageira, é uma epidemia mundial. O Brasil é o terceiro maior mercado de tatuagens no mundo, ficando atrás dos Estados Unidos e Holanda. Um mercado que, desde 2004, registra crescimento de 20% ao ano. O número de tatuadores passa de cem mil e, segundo o Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body Piercing do Brasil (Setap), apenas 5% deles tem estúdios legalizados.
Estes dados demonstram um fenômeno social e muitos dermatologistas preocupados, pois apesar de algumas tatuagens serem verdadeiras obras de arte, todas elas não são isentas de riscos para a saúde – que vão das alergias ao eczema e até ao câncer de pele.
O fato dos pigmentos
“No princípio era a preocupação com a higiene da estrutura da tatuagem e o perigo de transmissão de doenças, especialmente com o compartilhamento das agulhas. Agora a preocupação é com a toxicidade dos pigmentos e seu destino, uma vez injetados na pele” – diz a dermatologista de São Paulo, Luciana Maluf. De fato, uma parte da quantidade inoculada de pigmentos é fixada em macrófagos, nas células da derme, formando subsequentemente o desenho. O resto pode ser todo, ou em parte, absorvido pela circulação linfática, permanecendo impregnado no corpo. Ainda não existem estudos definitivos sobre a mecânica orgânica de absorção dos pigmentos não assimilados pelas células do sistema imune.
Um estudo realizado na Dinamarca, em 2013, detectou produtos químicos cancerígenos em 13 de 21 tintas usadas em tatuagens na Europa. Toxinas das tintas podem ser absorvidas pelo corpo, entrar na corrente sanguínea e acumular no baço e rins, prejudicando a capacidade orgânica de filtrar impurezas. O estudo foi realizado pela equipe do professor de dermatologia Jorgen Serup, da Universidade de Copenhaguen. Agências governamentais de controle da saúde pública, como o FDA (EUA) e a ANVISA, buscam meios para regulamentar a qualidade das tintas de tatuagens, proibindo aquelas que levam metais pesados em sua composição.
A primeira bateria de sol
O risco maior é sob o sol. “Tinta da China, vermelhos profundos, azul: são apenas algumas das tintas fortes que atraem os raios solares mais prejudiciais. Os infravermelhos, que não podem ser dispersados, superaquecem a pele, que começa a sofrer”, explica a doutora Luciana Maluf.
Além disso, a radiação solar constante fará com que a tatuagem vá perdendo o brilho e as cores. Por isso é fundamental ficar à sombra e evitar exposição ao sol forte e usar um filtro solar de alta proteção, que deve ser repassado constantemente.
Os cremes não bastam
“Alguns pigmentos são fotossensibilizantes. Ou seja, tem verdadeira aversão ao sol. As consequências podem ser queimaduras, bolhas, eczema de pele, apenas para mencionar os aborrecimentos mais frequentes. Outra boa razão para manter a tatuagem bem coberta com uma gaze nas pequenas áreas tatuadas e com roupas anti-UV nas grandes áreas”, adverte a doutora Luciana Maluf.
Nem mesmo o protetor solar serve para reparar os eventuais danos à pele: corre-se o risco de exposição continuada ao sol forte sob a falsa convicção de estar com a pele devidamente protegida. O resultado será mais problemas para a pele e menos brilho para a tatuagem, que pouco a pouco vai esmaecendo.
A armadilha mascarada
Mas o perigo real são os cânceres de pele. Acima de todos, o melanoma. “A tatuagem não é a causa do melanoma. A doença se apresenta geralmente em lesões pigmentadas de preto ou marrom escuro, que podem ser facilmente confundidas com a cor da tatuagem. Não é por acaso que chamamos esta situação de “ação mascarada”, explica a doutora. Mas atenção! Existem os melanomas amelanóticos: menos frequentes e não apresentam pigmentação, ou seja, são da cor da pele.
“Se o diagnóstico é tardio, as esperanças de cura são poucas”, adverte a doutora Luciana. “É preciso toda a atenção sobre a tatuagem: se crescer ou mudar de forma, coçar ou sangrar (o que também não é algo habitual), não perca tempo, consulte um dermatologista o mais rápido possível. Talvez seja necessário fazer uma dermatoscopia e uma biópsia, de modo a evitar qualquer dúvida “.
Remoção da tatuagem
Estudo realizado no Royal Blackburn Hospital, no Reino Unido, e apresentado na 71ª. Reunião Anual da American Academy of Dermatology, em março de 2013, apontou que 1 em cada 3 pessoas se arrepende de ter feito a tatuagem.
“Atualmente, com o desenvolvimento e aprimoramento do laser, já conseguimos fazer a remoção da tatuagem, o que requer inúmeras sessões com resultados bastante variados, que podem ir de excelentes a meramente satisfatórios”, explica a doutora Luciana Maluf, especialista em terapias a laser.
“Há muitos fatores para levarmos em conta: as cores e as misturas de cores usadas na tatuagem, o tamanho dela e local do corpo em que foi feita”. Algumas áreas do corpo, as pernas por exemplo, exigem maior tempo de cicatrização e de recuperação da pele, após cada sessão de laser. “Outro fator que dificulta a remoção é a profundidade em que os pigmentos corantes foram introduzidos na pele – quanto mais profundos, mais demorada é a remoção”, explica a doutora.
“Os lasers conseguem remover bem a tinta preta e a azul. Há laser específico para a verde, e as cores mais difíceis de remoção são a vermelha e a amarela. Mais precisamente, os lasers Q-Switched, que tem velocidade de pulso de disparos na ordem de nanossegundos (e hoje já existem os picossegundos), são amplamente difundidos para esse essa finalidade”, finaliza a dermatologista Luciana Maluf.